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28 de jan. de 2011

"A dor do Rio" - Antonielson Sousa


Essa crônica é uma homenagem a todas as vítimas da tragédia ocorrida na região serrana do Rio de Janeiro. 

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"A dor do Rio"
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Ah meu Deus! Não sei se sou forte o bastante, ou se perdi a noção do real. É tanta dor entre meus ossos, tanta indignação, que me sinto distante daquela sensação de paz. Como se a nobre lembrança que carrego comigo fosse jogada exatamente ao chão. É nesta hora que inevitavelmente e desnecessariamente, porque não, sou forçado à pergunta: Por quê? Por quê? Por quê?

“Tudo é apenas lama” estorvando a consciência que ainda me resta. Meus pés andam por cima do entulho, sobre o que antes era meu lar. Dera fosse essa a única perda. Mas não. Minha família estava toda ali, diante dos meus pés. Eu escavava desesperado com minhas mãos, sem parar, até meus dedos escarnarem e a voz ao meu lado repetir: “filho... Lamento”.  Senti-me um inútil. Tudo estava ali diante dos meus olhos e nada pude fazer. Nem mesmo um último abraço eu pude dar.

E ajoelhei, exausto, com as mãos ensangüentadas. E as lágrimas se confundiam entre os pingos da chuva. E vi os corpos jogados sobre o lamaçal, ou sendo carregados por alguém que queria apenas ajudar. Só então percebi que tudo o que eu assistia não se tratava de um sonho. E fui lentamente caindo em um abismo escuro, que girava sem parar. Fiquei assim por algum tempo, e se pudesse escolher, preferia continuar da mesma maneira, talvez para sempre.  No entanto, ao abrir os olhos, percebi que minha ajuda era necessária. E estendi as mãos.

Inexplicavelmente consegui ver esse poder magnífico da superação, que tomou meu espírito, apensar de contestar-me por várias vezes, quando deparei com expressões inconformadas de gente que ainda não sabia, ou fingia não saber, o que de fato estava acontecendo. E continuei noite adentro entre os choros e o desespero. Na manhã seguinte, enquanto ainda continuávamos, extenuados, senti por inteiro a gigante catástrofe que nos ocorreu e apesar de, a esperança e a fé era agarrada com força. Era o que nos restava. Felizmente ou infelizmente, não sei, era o que nos restava.

Crônica escrita por Antonielson Sousa

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