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22 de mar. de 2011

Literatura Infantil - O amigo do Picasso

O nome do livro – O Menino Que Mordeu Picasso - já causa o primeiro impacto. “Que brincadeira dever ser essa?”, imaginei. Mas a surpresa maior estava no meio da leitura. O escritor britânico Antony Penrose conta que em uma das visitas que Pablo Picasso fez à fazenda em que morava com os pais na Inglaterra – a renomada fotógrafa Lee Miller e o pintor Roland Penrose – , o menino estava tão animado em mostrar tudo ao amigo dos pais que lascou uma mordida em seu braço, assim, do nada. E qual foi a reação do pintor espanhol? Revidar! E o próprio Tony (na foto acima com o artista) conta no livro: “Antes que eu começasse a chorar, minha mãe ouviu Picasso dizer em francês: ‘Nossa! É a primeira vez que eu mordo um inglês!’”.

O livro todo, aqui lançado pela editora Cosac Naify, é uma bela costura entre a amizade deste menino com Picasso e as informações históricas dele. Hoje escritor e administrador do acervo artísticos da família do artista, Penrose conversou com exclusividade com CRESCER, em um emocionante e poético relato de uma inesquecível amizade de infância.

CRESCER: Qual é a sua melhor lembrança do Pablo Picasso?
Antony Penrose:
Minha melhor lembrança é estar em volta da casa dele quando criança, um lugar repleto de animais – cachorros e gatos e alguns pássaros enjaulados, claro, mas também animais que você não esperaria encontrar lá dentro como sua cabra Esmeralda (que o leitor pode conferir no livro em fotos).

C: Quando a amizade da sua família com Picasso começou?
A.P.:
Acredito que eles tenham se encontrado casualmente quando eram todos artistas juntos em Paris no início dos anos 1930, mas não há registro disto. Temos documentado o primeiro encontro do meu pai e Picasso em 1936, quando eles todos curtiam uma maravilhosa viagem de férias no sul da França, próximo a Cannes. E, no verão de 1937, também em Cannes, há registros de que ele tenha se encontrado com minha mãe (Lee Miller). Nessa ocasião, pintou seis retratos dela. Mas tenho certeza de que eles se conheceram quando ela estava em Paris, entre 1928 e 1932.

C: Quantos anos você tinha quando se deu conta da importância de Picasso no mundo?
A.P.:
Eu tinha por volta de 15 anos. Eu mencionei na minha escola que nós o tínhamos visitado na Páscoa e fiquei muito surpreso com a reação dos meus amigos. Fez com que eu me desse conta de que não era todo o mundo que tinha essa sorte.

C: E que idade você tinha quando ele morreu e como foi esse acontecimento na família de vocês, e especialmente para você?
A. P.:
Eu tinha 26 anos e morava na Nova Zelândia. Ouvimos a notícia pelo rádio. Me senti terrivelmente triste. Foi como se alguém tivesse desligado as luzes daquele dia. E, claro, fiquei triste porque meus pais estavam muito chateados e eu não estava lá com eles.

C: Quando você decidiu escrever este livro e como foi?
A. P.: Eu quis apresentar Picasso às crianças de alguma forma que elas se identificassem, na esperança de que elas começassem a entender seu trabalho, e ficassem estimuladas a procurar mais sobre ele depois. Até hoje há ainda muito preconceito contra a arte moderna, e então eu quis tentar que fosse divertido aprender sobre Picasso.

C: Você tem filhos ou mantém de alguma forma contato com crianças? Pensou nelas para escrever o livro?
A. P.: Tenho três filhos e uma enteada. Minha filha mais velha, Ami, tem dois filhos e quanto eu estava escrevendo o livro eles tinham 7 e 9 anos e eu imaginei uma conversa com eles mesmo.

C.: No geral, como as crianças reagiram ao livro? Você teria alguma história para contar, algum diálogo engraçado?
A. P.:
Foi muito recompensador para mim ver como as crianças respondem bem ao livro e tenho muitas histórias bonitas. Uma criança fez um lindo desenho de Picasso brincando na praia na minha companhia e na de um búfalo. Crianças parecem adorar a ideia de que uma pessoa importante pode ter um lado brincalhão e que ama animais de estimação.

C: O que você sentiu quando viu o livro pela primeira vez?
A. P.: Fiquei muito emocionado. Me envolvi de perto com a produção, mas isso não me preparou para o prazer de segurar a primeira cópia. Tanto a editora como a designer são mulheres muito jovens e talentosas e fizeram tudo ficar realmente lindos.

C.: Você realmente foi “mordido” por Picasso em todos os sentidos?
A. P.:
Sim, eu poderia dizer que fui mordido por Picasso de uma forma que ele certamente nunca vai me deixar. Toda vez que eu vejo um de seus trabalhos, até se for um que eu conheça bem, me dá uma sensação de espanto. Lembrar dele e me divertir com o trabalho dele enriqueceu minha vida e eu tenho muita sorte de poder compartilhar isso com outras pessoas.

Fonte: Crescer

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